Wagner Augusto Hundertmarck Pompéo[1]
Amanda Dias Vieira [2]
Menos de 24 horas após o incêndio que em 27.01.2013 vitimou 241 jovens na Boate Kiss, na cidade de Santa Maria, no Estado do Rio Grande do Sul, internautas de todas as partes já se mostravam organizados e mobilizados. Passeatas, protestos, pedidos de justiça ou mesmo denúncias de estabelecimentos que se encontravam em condições precárias de funcionamento se espalharam nacional e internacionalmente. Na tragédia reproduzida de forma instantânea por uma mídia onipresente, fruto direto da revolução da tecnologia da informação e da própria globalização, verifica-se os traços do ativismo digital, matéria emergente e que tem ocupado destaque na luta por direitos em meio ao contexto da sociedade em rede contemporânea. Tendo esse cenário como pano de fundo, o presente trabalho tem por escopo efetuar uma análise acerca do papel do ativismo digital na mobilização e protestos pela tragédia da Boate Kiss. Desenvolvido por meio de estudo de caso, a pesquisa, como se verá, revela-se em relação aos objetivos e método de abordagem dedutiva.
Palavras-chave: Ativismo digital, Boate Kiss, mobilização, protesto.
Revolucionada a partir do último quarto do século passado, a tecnologia da informação passou a modificar substancialmente as formas de agir e pensar de toda a sociedade. Atualmente, falar da sociedade em rede e suas características é falar, inevitavelmente, de uma mídia onipresente, globalizada e diversificada.
Com o surgimento da internet a mídia perdeu espaço, facilitando hoje em dia toda e qualquer pessoal, mesmo que isolada em algum dos cantos do planeta, pudesse publicar, postar ou noticiar acontecimentos. Isso, por sua vez, abriu espaço ao que Andrew Keen chama de “culto do amador”, onde:
[…] A verdade de uma pessoa torna-se tão “verdadeira” quanto a de qualquer outra. Hoje a mídia está estilhaçando o mundo em um bilhão de verdades personalizadas, todas parecendo igualmente válidas e igualmente valiosas. Para citar Richard Edelman, o fundador, presidente e CEO da Edelman PR, a maior empresa de relações públicas privada do mundo: “Nesta era de tecnologias de mídia em explosão não existe nenhuma verdade exceto aquela que você cria para você mesmo […][3]
Claro e cristalino, portanto, que “a explosão das telecomunicações e o desenvolvimentos dos sistemas de transmissão a cabo viabilizaram o surgimento de um poder de transmissão e difusão de informações sem precedentes”[4]. Computadores, tablet’s, smarthphones, notbook’s e netbook’s, enfim, esses são apenas alguns dos aparatos tecnológicos que, hodiernamente, permitem sejamos repórteres anônimos em um plantão de vinte e quatro horas por dia, sete dias na semana, trezentos e sessenta e cinco dias por ano.
Tendo esse cenário como pano de fundo, o presente trabalho tem por escopo efetuar um estudo de caso acerca do ativismo digital na mobilização e protestos pela tragédia da Boate Kiss. Para tanto, em um primeiro momento, definir-se-á o que é ativismo digital, suas características e propósitos para, somente depois, verificar, entremeio as ações articuladas em âmbito local, regional ou mesmo (inter)nacional, o papel do ativismo digital em torno da tragédia da Boate Kiss.
Desenvolvida mediante um estudo de caso, a pesquisa, como se verá, revela-se em relação aos objetivos e método de abordagem dedutiva.
De fato, o fenômeno da globalização interligou pessoas no mundo todo. Por meio de relações econômicas, sociais, políticas, culturais e midiáticas, a sociedade apresenta-se, mais do que nunca, em rede. É sobre essa estrutura de fluxos de informações constantes e onipresentemente atualizadas, que se vêem as cores que dão tom à realidade mundial contemporânea, na qual:
[…] A sociedade em rede, em termos simples, é uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias de comunicação e informação fundamentadas na microelectrónica e em redes digitais de computadores que geram, processam e distribuem informação a partir de conhecimento acumulado nos nós dessas redes […].[5]
Em que pese à larga versatilidade decorrente do avanço e versatilidade dos empreendimentos tecnológicos e científicos, nesse início de século XXI é a conexão maciça de inúmeras pessoas – de todo o mundo – em um só ambiente, que tem ganhando lugar de destaque nas mesas de debate político. A sociedade em rede transcende as fronteiras geográficas a que estávamos antigamente submetidos, expandindo pensamentos, opiniões e ações por todo o mundo, em “um dos mais fantásticos exemplos de construção cooperativa internacional, a expressão técnica de um movimento que começou por baixo, constantemente alimentado por uma multiplicidade de iniciativas locais”.[6]
Hoje, depois de longo caminho percorrido, é meio pelo qual permite “a qualquer pessoa, e não apenas as empresas de comunicação, consumir, produzir e distribuir informação sob qualquer formato em tempo real e para qualquer lugar do mundo sem ter de movimentar grandes volumes financeiros ou ter de pedir concessão a quem quer que seja”[7]. Seja por meio das redes sociais ou dos smartphones, nos quais aquela também subsistem e cuja função, conseqüentemente, já ultrapassou a pseudo-ideia de “fazer novas amizades” e “ligar para alguém”, postam-se, em poucos segundos, fotos, vídeos e gravações, no exato momento em que acontecem, sendo improvável a chance de algo notável, ou simplesmente curioso, passar despercebido aos olhos daqueles conectados a rede.
É sob esses princípios e características, que surgiu o que vem se chamando de ativismo digital ou ciberativismo que, enquanto mecanismo de ação política, arquitetadas e desenvolvidas no ambiente virtual, é definido como:
[…] Ações coletivas deliberadas que visam a transformação de valores e instituições da sociedade, [que] manifestam-se na e pela Internet. O mesmo pode ser dito do movimento ambiental, o movimento das mulheres, vários movimentos pelos direitos humanos, movimentos de identidade étnica, movimentos religiosos, movimentos nacionalistas e dos defensores/proponentes de uma lista infindável de projetos culturais e causas políticas. O ciberespaço tornou-se uma ágora eletrônica global em que a diversidade da divergência humana explode numa cacofonia de sotaques […][8]
“A internet, assim como o próprio paradigma digital, resulta da convergência de diversas tecnologias de comunicação. Ela é a rede mundial, ou seja, a maior interconexão de redes de computador do mundo”[9].
É fazendo uso da internet e suas ferramentas de conversação que pessoas ou grupos organizados – simpatizantes de uma mesma causa – têm se ligado, compartilhando informações (úteis ou não) e planejando ações.
Entretanto, mesmo que a Word Wide Web tenha o atual monopólio dessas articulações, os formatos tradicionais, dos quais especialmente a “TV ou mídia impressa vão continuar existindo, mantendo vivos sistemas e profissionais especializados neste tipo de análise” mesmo que sua participação seja mais restrita e menos importante.[10]
O ativismo digital visa:
[…] Dentre outras coisas, poder difundir informações e reivindicações sem mediação, com o objetivo de buscar apoio e mobilização para uma causa; criar espaços de discussão e troca de informação; organizar e mobilizar indivíduos para ações e protestos on-line e offline […][11]
Opondo-se a antiga lógica de que todo o fluxo de informação advém da mídia impressa e radiodifusora, atualmente é de ativistas digitais que partem grande parte de notícias e relatos informacionais. Com aparatos tecnológicos que antes eram característicos a determinados grupo de profissionais, a exemplo de jornalistas, fotógrafos e etc., hoje há grande facilidade de, com apenas um click, mesmo pessoas não ligadas à mídia fazerem parte de protestos e mobilizações não oficiais.
Essa tendência é reforçada pelo fato de que, direta ou indiretamente, os jornalistas amadores do ciberespaço estarem diuturnamente conectados, usurpando uma função nitidamente jornalística e documentária. É por isso que, na sociedade em rede, é remota a possibilidade de ocultar algo dessa nova e informal mídia ativista digital.
Era madrugada do dia 27.01.2013, quando em virtude de uma fatalidade, Santa Maria, município localizado no centro do estado do Rio Grande do Sul, ficou mundialmente conhecida pela tragédia ocorrida nas dependências da Boate Kiss, cuja fumaça tóxica produzida durante o incêndio iniciado no interior da casa noturna resultou na morte de 241 pessoas, entre diversos outros que restaram feridos. Assim como o natural do ser humano, mesmo que tragédias semelhantes já tivessem ocorrido nos Estados Unidos e Argentina, por exemplo, ninguém aqui – no Brasil, no Rio Grande do Sul ou mesmo em Santa Maria -, estava preparado para uma tragédia da dimensão que, infelizmente, ocorreu.
Os jovens que saíram de casa naquela noite de janeiro, estavam preparados para, assim como em todas as outras oportunidades, assistir a um show e, ao seu final, sair de lá. Era isso que, como de costume, esperavam também seus pais. Quis o destino, entretanto, que a história, dessa vez, tivesse outro final. Colocados a prova, aqueles adolescentes e seus pais (em sua grande maioria, pois se sabe que, em alguns outros casos filhos também perderam os pais que lá se encontravam) não estavam preparados para dizer ‘adeus’ uns aos outros.
Irresponsabilidade da banda (!?), a casa era um “labirinto” (!?), a fiscalização – poder público – falhou (!?), culpa dos seguranças que não liberaram a saída (!?), bombeiros despreparados (!?), o fato é que, em que pese as discussões jurídicas tecidas acerca da responsabilidade penal do fato em si, outro aspecto chamou muita atenção: o uso da rede/internet durante e depois da tragédia.
Da transmissão em tempo real de todos os acontecimentos e informações que surgiam, passando pela identificação de pessoas que, em virtude do desastre, haviam desaparecido, estando procuradas por amigos e familiares, até, depois de tudo isso, a arrecadação de alimentos, coleta de doadores de sangue ou mesmo quando organizados protestos e homenagens as vítimas, muitos foram às ações que inicialmente arquitetadas através do uso da rede, acabaram, na vida real, concretizando-se, efetivamente.
Esses fatos demonstrar uma característica muito peculiar do contexto contemporâneo, a qual é fruto, sobretudo, do avanço tecnológico que revolucionou o último quarto do século passado e início do século presente.
Os ideais neoliberalistas e da globalização, ilustrados de maneira sucinta enquanto integração econômica, política, social e cultural entre os países do globo – e que nem sempre são vistos com bons olhos, pois ao mesmo tempo em que realizaram a união de diversos países, tornando-os mais fortes, segregaram, também, alguns outros os tornando, de alguma maneira, mais suscetíveis as mudanças -, também tem participação fundamental nesse contexto.
Isso por que, se bem observado, nesse cenário:
[…] O domínio da mídia sofreu grandes alterações nos últimos 15 anos, em virtude da proliferação dos vídeos e dos controles remotos da televisão, da televisão a cabo e satélite, do crescimento da internet, da integração horizontal e vertical das mídias etc. Essas mudanças aumentaram drasticamente a quantidade de informação disponível, a velocidade de acesso à mesma, as oportunidades de comunicação em massa interativa e a convergência de tipos, propriedade e gêneros de mídia […][12]
Mesmo que a mídia convencional não tenha deixado de existir, até mesmo pela importância história que teve sua contribuição para que se chegassem às formas evoluídas que se tem hoje, é muito clara a alteração das fontes tradicionais que permeiam a atual sociedade em rede e seu fluxo de informações. Como Andrew Keew intitula um de seus livros, verificamos um verdadeiro “culto ao amador” [13], onde as publicações de pessoas anônimas revelam de modo instantâneo – seja por computador, smartphone, tablet ou qualquer outro meio tecnológico[14] -, os fatos da exata maneira e momento em que ocorreram.
Assim, não se pode negar que essa é uma das vantagens da globalização, da sociedade em rede, do fluxo e acesso constante de informações, que decorre não apenas do fato da mídia, mas, sobretudo, dos cidadãos estarem onipresentes.
Muitas pessoas ficaram sabendo do incêndio na boate Kiss por meio da própria rede, em especial do facebook. Na ordem cronológica dos fatos, após a tragédia, eram, minuto a minuto, postadas fotos e vídeos do local e das vítimas, sendo que, alguns/algumas, por tão fortes, chegaram a ventilar questionamentos acerca da (des)necessidade de sua publicação ante necessário o respeito a amigos e familiares envolvidos.
Por isso, não demorou muito para que Santa Maria se encontrasse no centro dos noticiários de comunicação de todo o mundo. BBC, CNN, La Nación, Clarín, El País, The Guardian, The New York Times, Washington Poust, Le Monde e Al Jaazera, foram apenas alguns dos mais importantes meios de comunicação que, espalhados mundo afora, noticiaram o aqui ocorrido.
Essa nova realidade, no caso de Santa Maria, revelou-se extremamente positivo. Em um primeiro momento por que, comovida, a sociedade civil compartilhou, em larga escala, de inúmeras fotografias e nomes, ora de procurados, ora de já encontrados, estivessem a salvos ou já desfalecidos.
Depois, pelo sentimento de solidariedade que, independentemente de se ter perdido alguém, despertou a todos, indistintamente, um sentimento de dor e de vontade de superar as feridas deixadas por aquele infortúnio. Isso serviu, também, para reforçar os sentimentos de pertença decorrentes da ligação da população para com o local, seja ele em nível regional, estadual ou mesmo nacional.
E, nesse sentido, convém destacar que:
[…] A rede é especialmente apropriada para a geração de laços fracos múltiplos. Os laços fracos são úteis no fornecimento de informações e na abertura de novas oportunidades a baixo custo. A vantagem da Rede é que ela permite a criação de laços fracos com desconhecidos, num modelo igualitário de interação, no qual as características sociais são menos influentes na estruturação, ou mesmo no bloqueio, da comunicação. De fato, tanto off-line quanto on-line, os laços fracos facilitam a ligação de pessoas com diversas características sociais, expandindo assim a sociabilidade para além dos limites socialmente definidos do auto-reconhecimento […][15]
São esses laços inicialmente fracos que, recentemente, têm servido de base para a perfectibilização de ações que se fundam sobre uma estrutura e cultura ciberativista. Inicialmente criadas e planejadas no mundo virtual, muitas são as ações que vem campeando ao mundo real.
Como afirma Perez Luño, isso decorre do fato de que as novas tecnologias:
[…] Sobre tudo, internet, al proyectarse al ámbito jurídico político en forma de teledemocracia, suscitan un dilema básico e ineludible, de cuya alternativa depende el porvenir de la ciudadanía: en su polo positivo, pueden afirmar un nuevo tipo de ciudadanía, una ciberciudadanía, que implique un nuevo modo más auténtico, profundo e instalado en los parámetros tecnológicos del presente, para una participación política con vocación planetária […][16]
Prova disso, é que na madrugada da tragédia, quando tudo começou, por volta das 02h, uma das vitimas, que se encontrava no interior da boate, postou em uma rede social, por meio do seu smartphone, um pedido de socorro onde dizia de maneira clara e objetiva que a boate estava incendiando. Ou seja, as informações são passadas não mais ‘logo em seguida’ ou ‘instantes depois’, mas, muitas vezes, no exato momento em que estão acontecendo.
Após isso, identificadas as vítimas fatais e removidas àquelas lesionadas, movimentos de ativismo digital mudaram o foco de atuação fazendo correntes solidárias de oração e doação de sangue. Informações de utilidade pública, como locais e horários de doação, eram constantemente divulgados, compartilhados de forma viral.
E isso, destaca-se, perdurou durante dias.
Não demorou muito para que as primeiras passeatas, missas e homenagens fossem criadas como “eventos” no Facebook. Convocadas, centenas de pessoas aderiram a essas ações populares, não só em Santa Maria como, também, em outros pontos do Rio Grande do Sul, Brasil e até no exterior, sobretudo na Argentina, onde, a alguns anos atrás, um fato idêntico ocorrerá.
Foi por meio dessas ‘convocações’ que muitos eventos saíram do mundo virtual nos quais estavam sendo combinados e passaram a ter grandes dimensões no mundo real. Vigílias, missas de sétimo dia, homenagens de uma semana, de um mês, de dois meses, enfim, diversas formas de demonstração de compaixão e solidariedade foram executadas pelos santamarienses que, até hoje, já passados mais de três meses, continuam lembrando, cotidianamente, daquilo que lhe embargou.
Principal e mais nítido exemplo disso foi, sem dúvida, a manifestação que ocorreu no dia 27.02.13, quando passado exato um mês da tragédia. Nesse dia, às 08h da manhã toda a cidade fez o que ficou popularmente conhecido como “um minuto de barulho”. Carros buzinaram e pessoas, paradas em meio a rua, aplaudiram fervorosamente para que todos lembrassem do quão alegres aqueles jovens eram e que, apesar do ocorrido, não poderiam ser esquecidos tão facilmente.
Até mesmo a fiscalização de locais que se assemelhavam ao da tragédia – casas noturnas, na grande maioria dos casos -, foram objeto de novas vistorias por parte do Poder Público, o que ocorreu por cautela ou mesmo por denúncias anônimas, fomentadas através de ações populares instigadas pela rede.
Isso demonstra, portanto, que ao contrário do que muitos críticos à rede afirmam, esta não veio afastar pessoas do convívio social, isolá-las do mundo real ou impedi-las de conhecer outras pessoas. Pelo contrário, demonstra que é possível sim, que a rede seja utilizada para arquitetar ações e ideais que, arquitetadas através da rede, podem vir a ser concretizadas no mundo real.
Mesmo que a rede estabeleça, prima facie, aqueles chamados “laços fracos” trabalhados por Castells[17], o ativismo digital vem demonstrando que a união em rede pode os transformar em “laços fortes”. O ativismo digital é, noutras palavras, uma forma de conhecer novas pessoas, criar novos laços que sejam passados para o mundo real, abrindo discussões em rede, precipuamente em temas de interesse comum, entre tantos outros benefícios.
É com propriedade que, nessa toada, Castells e Cardoso explanam que:
[…] A sociedade em rede também se manifesta na transformação da sociabilidade. O que nós observamos, não é ao desaparecimento da interacção face a face ou ao acréscimo do isolamento das pessoas em frente dos seus computadores. Sabemos, pelos estudos em diferentes sociedades, que a maior parte das vezes os utilizadores de Internet são mais sociáveis, têm mais amigos e contactos e são social e politicamente mais activos do que os não utilizadores […][18]
Os utilizadores da internet são politicamente mais ativos do que os não utilizadores e isso só vem a reafirmar tudo que já foi exposto, haja vista que grandes mobilidades sociais aconteceram após o evento Kiss, não somente em Santa Maria, de modo previamente arquitetado e orquestrado através da rede.
Esse caso demonstra, portanto, o importante papel do ativismo digital no contexto contemporâneo, na luta por direitos e sua efetivação.
Por se tratar de um acontecimento extremamente recente, ainda não existem artigos ou publicações oficiais que, como o presente trabalho, efetuem um estudo de caso científico sobre o incêndio na Boate Kiss. Por outro lado, no que diz respeito à sociedade em rede, ao ativismo digital e ao fluxo de informações, diversas as fontes existentes, de modo que o presente trabalho teve por bem, portanto, aplicar essa bibliografia aquele caso fático para, a partir daí, efetuar as conclusões do que inicialmente se propôs.
Como visto, a ocorrência do segundo maior incêndio da história brasileira, deixou clara a importância do papel que o ativismo digital vem desempenhando entremeio a sociedade da informação. Reforçando, em especial, os ideais democráticos, que se estrutura a partir da manifestação de uma consciência coletiva, organizada e voltada a um fim comum, muitas foram às ações que, sugeridas no mundo virtual, acabaram, com imenso sucesso sendo reproduzidas no mundo real.
Assim o foram com os debates ocasionados a respeito da segurança em locais públicos e privados, gerando conseqüências principalmente no que concerne o rigor das fiscalizações e as normas de segurança nesses ambientes, com os serviços de utilidade pública, a exemplo da imensa valia que teve a ajuda para identificar desaparecidos/vítimas, arrecadará doadores de sangue, alimentos, água e etc.
Esse triste episódio demonstrou, felizmente, que hoje a rede serve, entre outras finalidades, como porta voz do povo, fato que se deve a cultura ciberdemocratica e cibercidadã, decorrente do impacto da tecnologia da informação e a conseqüente e indeterminada inclusão digital. Rompemos com a tradicional concepção de que a mídia se destina, única e exclusivamente, a difusão rápida, precisa e instantânea de informações, passando a conceber que ela agora é uma nova maneira da população ser ouvida.
Assim, como no caso da Boate Kiss, é através das novas e mais variadas mídias que, hodiernamente, a população suscita e tem atendidas as suas mais distintas insatisfações, seja em face do Estado ou mesmo particulares, como aqueles que disseminam produtos ou marcas no mercado, que antes só eram atendidas por meios mais demorados, maçantes e burocráticos procedimentos administrativos ou judiciais.
De tudo isso se conclui que, embora recente, o ativismo digital é uma ação emergente e que vem se alastrando rapidamente, chegando exatamente onde tem que chegar. Por seu êxito junto as mais distintas lutas por direitos, o ativismo digital serve de exemplo para que mais e mais pessoas venham aderir a sua causa, pois os indivíduos, antes isolados em sua individualidade, agora se sentem a vontade para, com o auxílio de outras pessoas que compartilham da mesma causa ou necessidade, mobilizar-se e protestar sem medo de retaliações, em um fluxo contínuo e que finda e (re)começa da aurora ao crepúsculo.
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[1] Advogado. Especialista em ciências criminais. Pós-Graduando em Gestão Pública e Mestrando em Direitro pela UFSM. Professor de Direito na Faculdade de Direito de Santa Maria – FADISMA. E-mail para contato: wagner@mmtadvogados.com.br.
[2] Acadêmica de Direito, do 5º semestre, da Faculdade de Direito de Santa Maria – FADISMA. E-mail para contato: mandy.vieira@hotmail.com.
[3] KEEN, Andrew. O culto do amador: como blogs, MySpace, YouTube e a pirataria digital estão destruindo nossa economia, cultura e valores. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009, p. 20.
[4] CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. A era da informação: economia, sociedade e cultura; v. 1. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p. 299.
[5] CARDOSO, Gustavo; CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: do conhecimento à acção política. Conferência promovida pelo Presidente da República. 04 e 05 de Março de 2005. Centro Cultural de Belém, 2005, p. 20. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/a_sociedade_em_rede_-_do_conhecimento_a_acao_politica.pdf>. Acessado em: 21 de abr. 2013.
[6] LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. 1. ed. São Paulo: 34, 1999, p. 126.
[7]LEMOS, André; LÉVY, Pierre. O futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia planetária. São Paulo: Paulos, 2010, p. 25.
[8] CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003, p. 115.
[9] CANUT, Letícia. Proteção do consumidor no comércio eletrônico: uma questão de inteligência coletiva que ultrapassa o direito tradicional. Curitiba: Juruá, 2008, p. 56.
[10] CAVALLINI, Ricardo. Onipresente: comunicação: de onde viemos e para onde vamos. São Paulo: Editora Fina Flor, 2009, p. 103.
[11] RIGITANO, Maria Eugênia. Redes e ciberativismo: notas para uma análise do centro de mídia independente. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/rigitano-eugenia-redes-e-ciberativismo.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2013.
[12] CARDOSO, Gustavo. A mídia na sociedade em rede: filtros, vitrines, notícias. Rio de Janeiro: FGV, 2007, p. 323.
[13] KEEN, Andrew. O culto do amador: como blogs, MySpace, YouTube e a pirataria digital estão destruindo nossa economia, cultura e valores. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.
[14] “[…] atualmente, o acesso de um maior número de pessoas à informática representa um avanço para a comunicação, uma vez que o computador não é somente uma máquina, com seu aspecto tecnológico de última geração, mas também leva consigo a possibilidade de transmitir a informação de uma forma muito veloz. Hoje em dia, os computadores não estão mais isolados, mas sim interligados em redes, em conexão com outros computadores” (LIMBERGER, Têmis. O direito à intimidade na era da informática: a necessidade de proteção dos dados pessoais. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2007, p. 51) e assim também o é, agora, com tablets, smartphones e outros dispositivos que acabam conectados a web.
[15] CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. A era da informação: economia, sociedade e cultura; v. 1. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p. 445.
[16] PEREZ LUÑO, Antonio-Enrique. ¿Ciberciudadanía o ciudadanía.com? Barcelona: Gedisa, 2004, p. 100.
[17] CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. A era da informação: economia, sociedade e cultura; v. 1. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p. 445.
[18] CARDOSO, Gustavo; CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: do conhecimento à acção política. Conferência promovida pelo Presidente da República. 04 e 05 de Março de 2005. Centro Cultural de Belém, 2005, p. 23. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/a_sociedade_em_rede_-_do_conhecimento_a_acao_politica.pdf>. Acessado em: 21 de abr. 2013.